quinta-feira, 12 de novembro de 2009

A Chave no Bueiro e o Abismo do Pecado


Ontem fui alvo de uma situação inusitada. Fui de moto ao centro da cidade receber uns exames de minha esposa que está grávida. Ao sair do laboratório com o envelope na mão, montei na moto meio desajeitado. Peguei a chave com a mão trocada. Quando tentei destravar para dar a partida, senti uma voz me dizendo: “segure a chave direito para não ter problemas”. Foi dito e feito. O chaveiro caiu num bueiro de uns 60 centímetros de profundidade. Rapidamente um frio tomou conta do meu estômago, pois a moto era emprestada. O dono havia avisado que eu tivesse cuidado pra não perder a chave. Instantaneamente meu cérebro enviou essa mensagem ao estômago que “congelou”. Pensei na hora, “puxa o que ele vai dizer? Como vou voltar pra casa?”

Olhei para dentro do bueiro escuro e vi o chaveiro. Tentei enfiar o braço na abertura mais o espaço era pequeno. Forcei a mão e ela só entrou até o punho, mais ou menos. Parei de forçar, pois imaginei que se passasse talvez não quisesse voltar.

Pensei no que fazer para resolver o problema. Olhei para os dois lados da rua buscando uma solução. Pensei chamar um menino, pois seu braço, mais fino que o meu, poderia alcançar a chave. Não havia nenhum na rua.

Vi um senhor num carrinho de doces conversando com uma senhora. Aproximei-me rapidamente e perguntei-lhe se tinha um arame, explicando a situação, pedindo urgência, pois temia que houvesse uma descida de águas no esgoto, arrastando a chave. Ele prontamente me atendeu, dizendo que tinha algo melhor, um imã. Começou a buscá-lo, enquanto eu pedia pressa. Eu fiquei esperando por uns dois ou três minutos, enquanto o velhinho desenrolava vários sacos de plástico, um dentro do outro. Finalmente, no último saco estava o imã. Perguntei: “agora só falta o arame.” Ele disse: “não se preocupe já ta com o arame.” Começou a desenrolar e corremos até o bueiro. Ele deixou o seu comércio e foi resgatar minha chave, com uma calma incrível. Abaixou-se, apesar da idade, olhou bem onde ela estava e desceu o arame. Colando a chave ao imã, içou para minha alegria. De posse dela, agradeci ao homem, pedindo que Deus o recompensasse. Ele me disse: não se preocupe. E voltou para o carrinho.

Quando eu ia saindo, ele gritou: Vêm cá lavar a chave e a mão. Havia sujado na inútil tentativa de resgatar com a força a chave. Voltei, lavei–me e me despedi uma vez mais. Pensei em comprar alguns bombons como agradecimento, mas desisti, pensando que ele interpretaria como sendo um pagamento, por um favor. Geralmente quando somos alvo de um favor imerecido tentamos a todo custo pagá-lo, pois fica um sentimento de dívida.

Depois refleti sobre o significado desse episódio. Como existem pessoas dispostas a ajudar-nos. Você talvez já tenha sido alvo da bondade altruísta de alguém hoje. Certamente teremos a oportunidade de retribuir em algum momento da vida, fazendo o mesmo por alguém. Refletindo um pouco mais, associei a cena do meu desespero, a boa vontade do velhinho e o resgate da chave ao plano da salvação.

Note bem. O ser humano pecou porque deixou de ouvir a voz de Deus, preferindo fazer as coisas como gostava. Algo trágico aconteceu. Caiu no bueiro do pecado. Inutilmente tentou com todas as forças e técnicas sair do buraco escuro e frio, sem qualquer sucesso. Em vão as pessoas tentam resolver o problema do pecado com sua própria força. Alguns esperam receber o prêmio de uma consciência tranqüila com base na obediência, mas isso nunca será possível. Desesperado buscamos solução em todas as partes, sem encontrar saída. Quando pensamos que já não há jeito, somos atraídos a Cristo.

Quando conhecemos o plano da redenção, ficamos impressionados com o amor de Jesus pela humanidade. Ele vivia no céu, rodeado de anjos que o adoravam. Comungava junto com o Pai e o Espírito Santo desde a eternidade. Sua obra era a criação de mundos incontáveis e a supervisão dos mesmos, fazendo com que suas leis seguissem a ordem inalterável para a felicidade de todas as suas criaturas. Apesar de tudo isso, Cristo deixou o conforto do céu para viver na terra. Ele baixou do céu a terra para resgatar o homem.

“Por nós mesmos, é impossível escapar do abismo do pecado em que estamos afundados. Nosso coração é mau e não podemos mudá-lo... A educação, a cultura, o exercício da vontade, o esforço humano, todas essas coisas têm sua importância, mas nesse caso não têm poder para mudar a situação. Podem até produzir um comportamento aparentemente correto, mas não transformar o coração nem purificar as fontes da vida. É preciso que haja um poder que opere no interior, uma vida nova vinda de cima, para que o homem passe do estado pecaminoso para a santidade. Esse poder é Cristo. Somente sua graça poderá vitalizar as inertes faculdades espirituais e atrair a pessoa para Deus, para a santidade.” (Ellen White, Esperança para viver,15-16)

Quando Cristo se aproxima de nós, vê de perto nossa situação. Conhece nosso interior. Sabe que estamos atolados e submersos no pecado. Não nos censura. Apenas nos olha com um amor incompreensível. O mesmo olhar que converteu Pedro converte-nos também. Então nos atrai com a força de um imã, e nos resgata. Exatamente antes da enxurrada do mal destruir-nos. O salmo 40 diz: “Esperei confiantemente pelo Senhor; ele se inclinou para mim e me ouviu quando clamei por socorro. Tirou-me de um poço de perdição, de um tremedal de lama; colocou-me os pés sobre uma rocha e me firmou os passos.” (versos 1,2)

Depois que somos resgatados do fundo do poço, não existe outra atitude senão exclamarmos como Davi: “Amo o Senhor, porque ele ouve a minha voz e as minhas suplicas.” (Salmo 116:1)


Ribamar Diniz (Bacharel em Ciências da Religião e Estudante de Teologia na Universidade Adventista da Bolívia)

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