segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

As Agulhas do Fanatismo


Entre as notícias mais chocantes nesse fim de ano uma esteve relacionada a um garoto vítima de um crime raro. Seu padrasto confessou ter inserido várias agulhas em seu corpo. O mais impressionante é que tudo aconteceu num “ritual de magia negra”. Como algumas agulhas estavam localizadas próximas a órgãos vitais o garoto precisou fazer cirurgias para retirá-las. As agulhas podem ser meios para os cirurgiões curar, mas também podem ser instrumentos nas mãos de fanáticos para ferir crianças inocentes. As agulhas do fanatismo causaram muita dor no menino. O macabro de tudo é que alguns de nós podemos estar usando agulhas de extremismo e ferindo muitos inocentes.

Podemos constatar que cada atividade humana tem um componente intruso e perigoso que anula, distorce ou diminui sua filosofia original. Assim, os benefícios da realização plena da atividade são seriamente comprometidos. A corrupção parece ser o componente mais prejudicial no desempenho da política; o doping é o fantasma do esporte; no caso da literatura é o plágio; a pornografia prejudica o cinema; a parcialidade a imprensa; a desonestidade a ciência; a violência a família e a falta de ética a filosofia. Sem dúvida nenhuma o fanatismo é o componente mais perigoso e letal da religião. É o que mais distorce sua mensagem original e aliena seus adeptos.
Fanatismo é o “excessivo zelo religioso”, a “adesão cega a uma doutrina”. Então um fanático é alguém que “se dedica exageradamente a alguém ou alguma coisa” (Silveira Bueno, Minidcionário da língua portuguesa, FTD). O fanatismo nos torna cegos e capazes de agir de maneira inimaginável.

Os cristãos não estão livres de cometerem atos questionáveis ou até criminosos por causa de fanatismo. Segundo Jonas Arraes, em seu livro Uma igreja positiva em um mundo negativo o fanatismo “tem retardado a proclamação do evangelho, provocado desunião entre os cristãos e desvirtuado a imagem do cristianismo perante o mundo”.
No contexto adventista o fanático prejudica pessoas próximas a si, além de influenciar negativamente os outros, gerando os chamados movimentos dissidentes. Os fanáticos possuem certas características peculiares e podem ser ajudados.

Principais características dos fanáticos
1. Os fanáticos são movidos por motivos geralmente ignorados ou ocultados por eles mesmos.
O doutor Alberto Timm, apresenta tanto as causas como as possíveis soluções para a dissidência adventista [1]:

A - Conhecimento superficial da verdade – o conhecimento superficial da verdade é de pouca duração (Mt 13:20,21); “a sacudidura sobrevirá pela “introdução de falsas teorias” e satanás é diligente estudante da Bíblia e levará a apostasia os estudantes superficiais da Palavra. É impossível minimizar-nos os níveis de apostasia sem que voltemos a enfatizar os grandes pilares doutrinários da nossa fé.
B - Conhecimento não santificado da verdade – Uma característica de muitos adventistas é o conhecimento teórico da verdade, destituído de sua influência santificadora (Ver Apoc. 3:14-22); só estaremos seguros se permitirmos, com humildade, que nossa vida seja santificada pela verdade como ela é em Cristo e em Sua Palavra (João 14:6;17:17)
C - Crises de relacionamento interpessoal – “O rompimento de relacionamentos em nível matrimonial, familiar, social, etc., pode acabar polarizando negativamente a atitude religiosa da pessoa.” “muitas das crises internas levantadas contra a mensagem adventista não são de origem doutrinária, mas apenas o brado de desespero de um coração dilacerado pelo rompimento de relacionamentos afetivos.”
D - Crises de identidade e de autoridade – “Pessoas que já ocuparam funções importantes” na igreja, das quais foram destituídas contra sua própria vontade, e indivíduos que gostariam de exercer certos cargos, para os quais não recebem a oportunidade, são passíveis de desenvolver um espírito crítico e generalizador. Promovendo uma nova luz, eles encontram uma forma de auto-afirmação e de auto-reconhecimento.
2. Geralmente os fanáticos revelam certa incapacidade de manter um senso de proporção em suas crenças e práticas [2].

“Quando são impressionados com alguma mensagem, sua mente logo é dominada por aquele tema. Falam o tempo todo sobre o assunto. Resumem a vida cristã aquele ponto abordado. Perdem também a visão espiritual e o senso de proporção.” O pior é que às vezes pode ser um ponto insignificante, obscurecendo as coisas importantes da fé.

3. Os fanáticos tentam fazer com que todos na igreja concordem com seus pontos de vista.

É natural que façam isso, pois crêem que seu ponto de vista é de tremenda importância. O problema não é tanto o fervor, mas os motivos que instigam esse fervor.

4. Os fanáticos quase sempre condenam os que se recusam a aceitar sua linha de pensamento.

Quando o fervor se deteriora a ponto de gerar intolerância, os efeitos mais perigosos do fanatismo são evidenciados. Na maior dos casos, os fanáticos são incapazes de ver que aqueles que se recusam a concordar com eles o fazem com base no senso comn e com honestidade intelectual e espiritual.

5. Em geral, quando outros membros da igreja se recusam a aceitar os pontos de vista dos fanáticos, estes passam a criticar a igreja e todo o movimento adventista.

Segundo outro estudioso “um ponto em comum na vida de todo aquele que entra em crise com a Igreja é que ele não se sente mais parte da mesma... Quando existe um problema no corpo, nenhuma parte tenta separar-se dele, mas antes todas cooperam para solucionar o problema. Nenhum órgão do corpo tenta viver fora dele, pois isto conseqüentemente o levaria à morte.”

Quando se desenvolve esse disposição cr´tica, os fanáticos sentem eu a igrjea se encontra tão distante do caminho certo, que eles devem se retirar dela. Mas, enquanto não saem, eles empregam sua danosa habilidade para tirar outros membros da igrjea.

6. Apesar de ser fervor e zelo, os fanáticos raramente realizam qualquer grande bem.

Quando os efeitos são examinados ao longo do tempo, percebese que os fanáticos são aqueles que deixaram pouco ou nenhum resultado construtivo, sobrando apenas o espírito de divisão, crítica, dúvida e descrença na igreja.

7. A maioria dos fanáticos parece contaminar-se com a justificação pelas obras.

É muito fácil pensar que, seguindo determinado programa ou realizando certas coisas, iremos nos tornar santos e justos à vista de Deus. Embora a obediência às leis de saúde esteja relacionada à boa experiência religiosa, não podemos assegurar santidade por aquilo que comemos ou deixarmos de comer. A linguagem do dissidente geralmente engloba frases como “temos que estar puros diante de Deus”. Temos que cumprir “toda a lei”. Temos que viver de acordo com todos os princípios. Embora devamos viver de acordo com as orientações divinas, as boas obras não podem salvar (Gálatas 2:16)

8. Geralmente os fanáticos e radicais são distinguidos por seu orgulho espiritual

O orgulho pode vir disfarçado de fervor a Deus. Quando seres finitos, começam a julgar todos os irmãos da igreja que discordam de suas opiniões nada mais revelam do que orgulho espiritual.

Como ajudar os fanáticos ou dissidentes

1. Previna o fanatismo na igreja com um estilo equilibrado no ensino e no estilo de vida da irmandade.

Sempre que houver oportunidade a igreja deve ser orientada com palestras sobre o estilo de vida cristã e sobre como interpretar a Bíblia e os escritos de Ellen White (já que a maior parte dos casos começa com problemas de má interpretação). Quando acontece um caso isolada de má interpretação a igreja não deve tomar atitudes precipitadas, mas buscar o irmão envolvido em particular e seguir as regras de Mateus 18, solucionando rapidamente o problema. Isso evita o desgaste com uma exposição pública do assunto, além de salvaguardar o bom nome dos irmãos.

2. Evite termos pejorativos ou outros constrangimentos que agravem a situação quando o fanatismo já está instalado.

Uma vez eu precisei discutir com dois irmãos com dúvidas sobre a Trindade. Alguns dias depois encontrei duas irmãs que me perguntaram: “Irmão, como foi com os dois hereges?” Sorri e disse: “Não houve nada irmãs, eram apenas dois irmãos que queriam conhecer um pouco melhor o assunto.” Evite o uso de termos preconceituosos, lembrando que os fanáticos são nossos irmãos e precisam de consideração.

3. Não ignora ou subestime o fanatismo, mas trate-o de imediato.

a. Comunique o caso ao pastor distrital ou ancião local (somente quando se torna público o assunto).
b. Visite junto com os líderes a pessoa/as evolvidas seguindo a norma de discrição de Mateus 18.
c. Se as dúvidas não forem solucionadas oriente as pessoas a manterem seus pontos de vista contrários a igreja de forma particular.
d. Se houver resistência e promoção das idéias contrárias a visão bíblica promovida pela igreja siga as orientações do Manual da Igreja sobre disciplina para pessoas envolvidas em “movimentos dissidentes”.

5. Promova seminários sobre doutrinas bíblicas para igreja está preparada para não se envolver com o fanatismo ou falsos ensinos.

Ribamar Diniz é Bacharel em Ciências da Religião e aluno do curso de Teologia na Universidade Adventista da Bolivia. Durante o mês de dezembro de 2009 realizou uma série de palestras na distrito de Juazeiro do Norte, no Ceará, para dirimir dúvidas sobre a Trindade. Está a disposição para atender distritos. O contato é ribamardiniz@yahoo.com.br

Referências:
1. Alberto R. Timm, Revista Adventista, Junnho de 1990, 9-10.

2. Até o item 8 foram retirados de Jonas Arraes, Uma igreja positiva em um mundo negativo: como desenvolver e aperfeiçoar a liderança em cada experiência de sua igreja, (Silver Spring, Maryland: publicado por Ministerial Association Resource Center General Conference of Seventh –day Aventists, 2008), 91.

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